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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Karatê Kid e a relação Mestre/discípulo



Depois de ter publicado o post sobre como o filme Kung-Fu Panda retrata mal a relação Mestre/discípulo, me senti na obrigação de mostrar um pouco o outro lado da moeda.
No verdadeiro discipulado a primeira etapa a ser cumprida, e que se tornará uma atitude perante a vida, é o gurusêva – o serviço ao Mestre. É uma tradição ancestral que continua viva nos dias de hoje e que consiste numa série de provas e trabalhos dedicados ao Mestre ou à Escola que ele representa.
A melhor película que já vi até hoje retratando com excelência o gurusêva é o filme Karatê Kid – A hora da Verdade. Nele, Daniel Larusso (Ralph Macchio) teve que encerar o carro, lixar o piso, pintar a cerca e pintar a casa do Mestre Miyagi (Pat Morita), antes que esse lhe ensinasse o karatê. Na verdade, ao realizar aquelas tarefas todas, Miyagi já estava treinando o garoto nos movimentos de ataque e defesa, sem que ele soubesse.
O filme todo está disponível no Youtube, dividido em várias partes. Para quem quiser um pouco de nostalgia e um clima anos 80s, vale o clique!

Kung-Fu Panda e a relação Mestre/discípulo



A relação Mestre/discípulo é uma das tradições mais formidáveis da Índia. Sua estrutura remonta a um período em que a escrita ainda não havia sido inventada, ou não era tão amplamente disseminada. Nessa época remota, o aprendizado era perpetuado pelo parámpará (um após o outro), ou seja, o Mestre detinha o conhecimento e o passava pessoalmente ao discípulo. Quando o Mestre morresse, o discípulo era promovido ao cargo do Mestre, e passava ele próprio a transmitir os ensinamentos do preceptor.
A história conta que quando a escrita passou a ser popularizada, os Mestres da época afirmaram que aquele seria o fim do conhecimento. Acreditava-se que, a partir do momento em que os ensinamentos fossem registrados em livros, as nuances de cada matéria se perderiam. Quando lidamos com uma filosofia tão complexa quanto o Yôga, podemos mesmo acreditar que eles estavam certos.
Atualmente, muitos conceitos sobre essa relação de aprendizado foram deturpados. Inúmeros autores afirmam coisas sobre o discipulado como que para fazer média com os leitores, e captar mais alunos. Inusitadamente, quero usar o filme Kung-Fu Panda como exemplo disso.
Nesse filme de animação computadorizada, o Mestre raposa Shi-Fu é atormentado pelo seu fracasso com seu primeiro discípulo, o tigre Tai-Lung. Ele se tornou orgulhoso e maligno depois que Oogway, o Grão-Mestre tartaruga, se recusa a lhe entregar o pergaminho do Dragão – ensinamento e comenda máxima do Kung-Fu. Por um acaso, surge Po, o urso panda trapalhão que termina por dominar o Kung-Fu e a derrotar Tai-Lung.
O primeiro pecado do filme é culpar o Mestre pelo mau comportamento do discípulo. O segundo é supor que um novo discípulo poderia corrigir os “erros” do Mestre. Mas o mais arrogante foi na cena final, quando Po usa um golpe contra Tai-Lung que Shi-Fu não havia lhe ensinado. Ele olha pra câmera e diz sorridente: -”Aprendi sozinho!”
O que redime o roteiro é a cena em que Oogway entra em “mahá samádhi” debaixo de um pessegueiro após um excelente diálogo com Shi-Fu. Mesmo assim, não dá pra usar Kung-Fu Panda como referência no que diz respeito a relação Mestre/discípulo. Recomendo a vídeo-aula de mesmo nome disponível como web-class na seção de downloads do site www.metododerose.org